A pele da cidade, 2013
Praça Mauá, Rio de Janeiro
Cidades são organismos complexos que estão em constantes transformações, tornando-se fontes inesgotáveis de reflexões, ideias e imagens. Sua história não pode ser feita por camadas, onde se sobreporiam novos usos, novas faces em consonância com a história, mas por derrubadas que sonham o futuro. Funcionam, então, como grandes palimpsestos onde o velho poema é apagado para dar lugar ao novo verso. Partituras esvaziadas que inauguram um lugar morto, dando vida ao silêncio; depois abrigam o caos e, assim, a cidade vai crescendo num mundo sem raízes. A série selecionada é parte deste projeto - momento entre o velho poema apagado e o novo verso - a derrubada do Viaduto do Cais do Porto.
Cápsula do Tempo, por Kitty Paranaguá
Rio de Janeiro, junho de 2015.
Como diz Italo Calvino, “a cidade não conta o seu passado, ela o contém como as linhas da mão”, como uma pele que a cada dia se recria para crescer, como uma pele que recebe códigos rumo ao extermínio, um destino já tão determinado. Quem sabe ler as linhas da mão, como um vidente, não antevê o futuro, mas vislumbra os caminhos já percorridos, a memória latente de sua gente, suas cores, seus sons.
Neste processo onde o velho poema é apagado para dar lugar ao novo, o viaduto da Perimetral que ligou a zona norte à zona sul da cidade durante cinquenta anos, foi ao chão. Estas transformações foram acompanhadas por vários fotógrafos e artistas.
Participando com a série fotográfica 'A Pele da Cidade', na exposição Adeus Perimetral, no Museu Histórico Nacional, idealizada pelo FotoRio, fechei o trabalho com uma Cápsula do Tempo. Uma caixa que, vedada e contendo os ensaios dos sete fotógrafos presentes na exposição, ao fim desta, foi enterrada na Praça Mauá, local emblemático da cidade onde começava uma dos acessos da Perimetral, na
localização 7466797,799 and E. 686628,094.
Quem sabe em um novo processo de transformação esta Cápsula venha à tona, revelando o legado poético deixado por estes artistas, de um lugar que teve o seu papel na vida da cidade.
ARTISTAS
Kitty Paranaguá, "A Pele da Cidade"
Paulo Marcos de Mendonça Lima, "Perimetranse"
Felipe Varanda, "Arqueologia das Futuras Ruínas - Primeiras Evidências"
Wilson da Costa, "Sobre pilares e sombras"
Coletivo Pandilla, "Perimetral"
PRINTS
Thiago Barros
APOIO
FotoRio, Ateliê Oriente & Nova Case
Exposição Adeus Perimetral
FotoRio 2015
CURADORES
Julieta Roitman & Milton Guran